sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Imagina o que é que eu vou dizer para os meus netinhos ???


Tenho 32 anos de idade e, como qualquer outra pessoa, me preparo para casar e iniciar a construção da minha família. Desde já, me preocupo com o fato de ser exemplo de vida e de pai para que o meu filho cresça baseado em um modelo de cultura e educação.

Mas, me veio à mente a grande dificuldade que terei em educá-lo. Se não, vejamos como poderá ser o meu diálogo com ele daqui a alguns anos:

Pai (normal) – Meu filho. Você nasceu pesando 4 quilos e sua mãe fez uma cesariana.
Filho – Mas papai. O senhor sempre me falou que as crianças nascem no dia e na hora que a “mãe natureza” quer que elas cheguem ao mundo. Isso só pode ser feito via parto normal. Eu não entendo por que quase 90% das crianças nascem via cesárea! Será que é um comodismo dos pais apenas para que eles possam saber o dia e hora certa que seus filhos vão nascer e, consequentemente, não vão poder perder aquela reunião tão importante do escritório?

Pai (sem jeito) – É meu filho. Mas, logo logo você vai crescer e chegará aos 15 anos de idade. Idade bonita onde você estará saindo da fase criança e iniciando a fase adulta.
Filho – É papai. Mas acabou de sair na televisão que apenas nessa semana, duas pessoas que estão nessa fase de mudança, seqüestraram as suas namoradas e as tornaram reféns. Uma delas que tinha esses mesmos 15 anos foi atingida por uma bala na cabeça e morreu. Mas, mesmo assim, a morte dela trouxe vida para várias outras pessoas que estavam na fila dos que precisam de órgãos transplantados. Ela salvou muito gente! Eu também vou salvar muita gente papai?

Pai (envergonhado) – Não meu filho! Esqueça essa parte. Pense que você vai sair para as festinhas e dançar muito com seus amiguinhos.
Filho – É pai. Eu até soube que hoje a gente pode dançar o Créu com as poposudas da cidade. Podemos até tomar uns comprimidos de nome estranho chamado ecxtasy que nos faz mais fortes para agüentar a festa toda.

Pai (aperriado)– Esquece, esquece. Vai ser melhor você pensar que vai poder votar e escolher os seus representantes.
Filho – Oba papai. Então eu quero conhecer um cara chamado Votinho de Ouro. Esse cara deve ser rico. Olha o nome dele ... tem ouro no final. Dizem até que ele é um grande negociador. Vende tudo à prazo! Paga no outro dia.

Pai (quase louco)- Não meu filho. Pense que você vai estudar bem muito, vai passar em um concurso ou vai ser chamado pra trabalhar em uma grande empresa.
Filho – Sim papai. Quero um trabalho igual ao que o pai de um amigo meu tem. Dizem que apenas pelo fato dele conhecer um cara bem famoso, ele fica em casa sem fazer nada e ainda recebe um salário bem maior do que o seu. Ele nem precisar estudar nem trabalhar. Ganha do mesmo jeito.

Pai (desconsertado) – Mas isso é uma coisa muito feia que a polícia proíbe e vai prender os que fazem as coisas errado!
Filho – Vai nada papai. A polícia é boazinha. Eles liberam as criancinhas de menor que fazem coisas feias no meio da rua, liberam delegados que tentam envenenar as pessoas, liberam as babás que maltratam os idosos, liberam os donos das construtoras que fazem prédios que caem, liberam os políticos que roubam, liberam as mães que roubam bebês. Liberaram até mesmo aquele Votinho de Ouro que te falei, lembra papai?

Pai (já morrendo procurando um buraco pra se esconder) – Lembro sim meu filho. Filho tive uma idéia. Vamos assistir televisão?
Filho – Vamos sim papai. Já está chegando na hora sagrada da refeição da gente (café-da-manhã, almoço e jantar) e nessa hora só passa programa que mostra as pessoas mortas, muito sangue e os presos que roubaram as galinhas do vizinho.

Pai (sem forças) – Mas meu filho. Eu estou falando pra gente assistir programas culturais e educativos.
Filho – Ah não papai. Esses programas aí não dão audiência não. Além do mais, esses programas quase a gente não acha mais. Só passam nos canais de TV por assinatura e muito tarde da noite. Nessa hora, eu já estou dormindo com os anjinhos sonhando em crescer logo.

Pai (agonizando) – Vamos dormir meu filho. Só assim vou poder rever os meus conceitos de pai e tentar mudar o rumo da sua educação e da sua cultura. Prometo ser forte para te esquivar dessa podridão que reina no nosso mundo. Mas serei mais forte ainda para te fazer um verdadeiro cidadão, culto, amigo, trabalhador, humilde e prestativo. Bem melhor do que eu fui e bem melhor do que muitos que não se preocupam com isso. Boa noite meu filho!
Filho – boa noite meu pai !

E você, o que está fazendo pra que isso mude? Nada mais interessa! Mude, raciocine, crie, invente, saia da rotina, exija, trabalhe, lute e respeite o seu voto!

Eu posso mudar o mundo. E você?

Rodrigo Nóbrega
rodrigonobrega@terra.com.br
30.10.08

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